30 abril 2012

Superfluido: o primo líquido do supercondutor

Ao esfriar o hélio líquido a uma temperatura abaixo de -271 ºC, o elemento também ganha supercapacidades. Para começar, ele perde toda a sua viscosidade, ou seja, o seu atrito interno, chegando a possuir menos resistência do que qualquer gás. Dessa forma, ao ser armazenado com equipamentos comuns, o superfluido pode escapar pelos minúsculos poros de uma vasilha e até mesmo escalar suas laterais para escapar da “prisão”, já que de tão fluído o líquido não possui sequer tensão superficial.

Apesar de bacanas de serem observados (assista ao vídeo acima), esses fenômenos não possuem muita aplicação prática. Em compensação, não podemos dizer o mesmo das capacidades térmicas do superfluido. Se retirarmos um líquido comum da geladeira, por exemplo, ele esquentará à medida em que o tempo for passando.

O mesmo ocorre se o fluido for agitado depois de sair da refrigeração.
Mas com o superfluido, isso não acontece. Ele é capaz de manter a temperatura absurdamente baixa por um longo período de tempo, sendo empregado, inclusive, para resfriar os supercondutores espalhados ao longo dos 27 quilômetros de circunferência que compõem o LHC. Para se ter uma ideia, a temperatura do “super-hélio” aumenta em menos de 0,10 ºC a cada quilômetro percorrido. Sem o superfluido, seria impossível a construção dessa máquina.

 

Por que isso tudo acontece?


Basicamente, esses fenômenos são resultados do mundo quântico, ou seja, de ações que acontecem dentro dos átomos de um elemento. A temperatura próxima ao zero absoluto faz com que as partículas subatômicas (bósons) de um elemento se comportem de maneira que chega a alterar o estado da matéria, transformando-se no que os físicos chamam de condensado de Bose-Einstein.

No caso do superfluido, a temperatura baixíssima faz com que os átomos de hélio acabem se comportando como se fossem um único átomo gigante, com o menor nível de energia possível. Suas características estranhas surgem a partir desse momento.

A viscosidade de um líquido é a dissipação de energia por meio da fricção interna de suas partículas, mas como o condensado já possui o menor nível de energia possível, ele não tem como dissipá-la ainda mais, perdendo assim essa característica.

Além disso, se você suspender uma porção desse superátomo, ele acaba adquirindo mais energia potencial gravitacional, criando uma situação de desequilíbrio para o superfluido. Assim, o líquido acaba “escalando” as laterais de um recipiente como forma de voltar ao equilíbrio original.

Os supercondutores também são um condensado de Bose-Einstein, mas por razões diferentes das do superfluido. Grosso modo, sob o frio congelante de quase zero absoluto, os pares de elétrons também perdem a capacidade de dissipar energia e passam a se comportar do modo estranho que vimos neste artigo.

 
Sem supermateriais, a construção do LHC não seria possível (Fonte da imagem: Boston.com)

E, de acordo com a revista New Scientist, isso não é tudo: há estados ainda mais estranhos da matéria. O hélio, por exemplo, pode ser manipulado até se tornar sólido. Para isso, é necessária uma temperatura ainda mais baixa (-272 ºC) e uma pressão atmosférica 25 vezes maior do que a da Terra. Nesse estado, o hélio bagunça completamente a nossa noção de solidez, permitindo que , sob condições especiais, esse sólido possa atravessar por dentro de outro, como se fosse um fantasma passando por uma parede.

Esse fenômeno ainda mais esquisito foi observado, pela primeira vez, em 2004, por pesquisadores de uma universidade na Pensilvânia. Na ocasião, eles observaram que uma frequência ressonante na vasilha que agitava um pouco de hélio sólido se comportava como se houvessem dois “objetos” lá dentro, que atravessavam um o outro.

Depois disso tudo, esperamos que você consiga dormir novamente. Aqui, na redação do Tecmundo, ainda estamos passando algumas noites em claro, pensando em quão esquisito é o mundo quântico e torcendo, ansiosamente, para que a ciência faça descobertas ainda mais intrigantes.
 
Fonte: Tecmundo

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